Seriamos Miojo?
















Somos uma massa onde os mais desvinculados pulam para fora do saco e escapam da panela?
Moldados para o único propósito de enganar a fome de uma barriga faminta?
Prontos para o total consumo em menos de 3 milênios.
Então no caso, prefiro ser um pedaço do miojo solto.
Destinado a sabe-se-lá quanto tempo de duração.

Prefiro ser essa poeira cósmica, a ser consumido.


Devaneio sócio-político-antropológico feito em uma madrugada durante uma larica.
O desenvolvimento de tal teoria varia de pessoa para pessoa, afinal, cada um sabe do seu próprio miojo.

Vicius



Acordo,
preparo o café,
acendo o meu cegarro lendo a minha sessão preferida do jornal: obituarios,
de alguma maneira sórdida o fato de existerem tantas pessoas morrendo no mesmo lugar onde vivo, me traz mais esperança de viver.
Não é possivel eu ter tanto azar para parar do lado de um João sei la o que.
Tomo café o mais rápido possível.
A noite foi agitada e estou quase atrazado para o médico, que curiosamente é amigo meu (sempre tento pagar o menos possível em qualquer coisa, pricipalmente médicos. Eles vivem para achar problemas nos outros, ainda vou pagar um preço exorbitante para alguem que vai me dar más noticias? Acho que não.).
Passo no seu Joaguin ates de ir pra lá, é uma longa caminhada, precisarei de mais um maço. É provavel que ele acabe antes de chegar la, mas serei sincero, cegarro é a unica coisa que não poupo despesas.

Como previsto, o maço acabou-se antes de chegar ao médico. Estou a uma quadra de lá, posso aguentar.
Subo as escadas como um condenado a morte, pensando qual seria a pior notícia que ele poderia me dar afinal, é melhor esperar sempre pelo pior, caso não aconteça, sorte a minha.
Entro no consultório.
As assistentes do Daniel estão cada vez mais lindas, e cada vez mais burras, acho que essa é a formula da funcionária perfeita.
Espero déz minutos folheando aquelas revistas típicas de consutórios (você provavelmente ja deve ter lido uma dessas.).

Entro na sala, olho para Daniel que, cuidadosamente tira os oculos novos feito em minha loja (daí veio a consulta grátis).
Me sento, mas não falo nada, espero ele falar.
_Então, como vai indo?
_Isso é que eu espero que você me diga.
_Pelo visto não está muito para conversas hoje.
Sempre fui muito "falador", porém hoje, acordei com uma estranha sensação, algo como...algo como um vazio...um silêncio.
Continuo calado olhando para ele.
Daniel respira fundo e começa.
_Você esta morrendo.
_É claro, e quem não esta?
Não importa a situação, nunca deixo a tristeza transparecer.
Daniel esboça um sorriso. Mas logo depois o sorriso transforma-se em pesar.
_Analisei os seus exâmes a semana toda, durante todos esses dias venho tentando achar uma solução, uma saída, procurei amigos, pedi opiniões...
_e...
_Você nao tem muito tempo.
Pergunto-lhe quanto.
Como sabe que minha vida gira em torno desse pequeno objeto cilíndrico e viciante, e como sou completamente perdido no tempo e espaço, onde a medida de tempo, não são por horas, mas por cegarros, ele me responde.
_Dou-lhe um maço de vida.
Uma inesperada gargalhada sai de meus pulmões destruidos pelo "tempo" assustando Daniel.
Projeto uma lagrima nos olhos juntamente com o sorriso no rosto e me despeço acanhado do meu carrasco.
Desço as escadas como se estivesse descendo para a minha cova.
Quando chego na rua, tudo esta preto e branco.
Estranho...
mas nao tenho tempo para indagações, vejo uma praça a minha frente.
Paro em um bar ao lado, logo depois sento-me em um dos bancos da praça, preciso pensar no que fazer.

Acendo a minha sentença,
soprando a vida pro alto.
Não consigo pensar sem ele.


Gabriel Pinto.